Apenas opiniões

quarta-feira, abril 26, 2006

Enquanto isso na sala de espera...


Fui novamente ao dentista nessa interminável saga que meu corpo insiste em me fazer passar. Tem gente que não pega gripe ou tem dor de barriga. Desde que me entendo por gente O corpo reclama de alguma coisa que eu nem sei o que é. Fomos nos acostumando um ao outro com o passar do tempo,mas ultimamente ele vem me lembrando dessa coisa abominável que chamamos de dentes. Não entrarei em detalhes tecnicos.Isso é absolutamente revoltante. Prefiro escrever sobre a chatice de se esperar numa salinha com cheiro indefinido pelo doutor. Tudo bem que foi a mais longa espera que já tive,uma meia hora. Meia hora esperando com uma montanha de revistas "Caras". Como suportei folhear aquilo?É nojento você no dentista e ver páginas e páginas de gente sorridente a não mais poder. Aqui no Brasil uma dentadura completa de nascença é privilégio de poucos. Pensei que já era hora de um "banguela zero" e certamente os sorridentes de "Caras" fariam tudo pra ajudar doando uns dentes postiços,umas pererecas,chapas,canais gratuitos. E hajam dentes perfeitos,peles imaculadas,músculos rijos,seios antigravitacionais perfeitos,olhos brilhantes e unhas impecáveis. Ó principes meus irmãos! Tão falsos como o milk shake de morango sem morango. Devem ser estofados de serragem. Lembrei de ter lido em algum lugar que há uma diferença entre estátuas e esculturas.Estátua é arte menor,busto de general elevado ao bronze.Trivial e ótimo para pouso de pombos e seus eventuais ataques aéreos. Escultura é tradução de um pensamento em forma tridimensional.É ver uma ideia concebida por detrás de um metal. Aqueles homens e mulheres de "Caras" são estátuas vivas de si mesmos. Eternidade em vida,raça vinda direto do grande Mummra,gente antisseptica cuja jovialidade é tão natural como uma lata de ervilhas. E lá estava eu,passando as páginas eloquentemente montadas por um idiota,empilhadas numa diagramação burra.A breguice é um estado da alma. Quando fui finalmente chamado,pedi para lavar as mãos.Nietzsche dizia lavar suas mãos sempre que apertava as de um homem religioso.Entendi os motivos.

segunda-feira, abril 24, 2006

Só um pouco de política.


O grande timoneiro da quadrilha sujou as mãos com óleo numa tentativa de igualar-se ao presidente Getúlio Vargas (o ditador baixinho). Que o presidente Lula tem as mãos sujas hoje cada brasileiro com mais que o bolsa família na renda sabe. Cedeu a tentação da imagem e ao posar com a mão negra e viscosa colou em si a certeza de que uma imagem vale mais que mil palavras. Certeza de ser o chefe de um bando de canalhas. Certeza de ser inepto quanto as escolhas e cercar-se dos mais baixos extratos um dia saidos da política nacional. O presidente Lula fez história naquela foto. Cada brasileiro irá recordar-se com vergonha desse dia e dessa era absurda. E nossa vergonha será redobrada com o segundo mandato presenteado por homens e mulheres comprados pela fome. Recordo das lamentações de Jeremias. Era um homem bom escolhido por Deus para corrigir seu povo e prepara-lo para a derrota e humilhação.Jeremias sofreu,como cada cidadão, o peso do jugo em seu pescoço.Mas disse claramente que nenhum mal vem de graça. Aqui somo subjugados por um estado que sangra o contribuinte e o empresariado.Que odeia o capital e se serve do mesmo para locupletar-se. Infame,deplora da democracia e enfia goela abaixo sua verbosidade mentirosa. Cai quem quer.Cairão muitos e teremos o que merecemos.
E informação é arma contra esses facínoras.Leiam o artigo de José Alan Dias no site da revista Primeira Leitura.

sábado, abril 22, 2006

Relevos e abstrações


Dia de Sábado absolutamente comum. Depois de uma noite insatisfatória pude retornar ao lar,doce lar. Ao menos a chuva deu uma trégua e pude chegar seco em casa. O amanhecer foi generoso.Uma garoa fina caia quando as 5 da manhã entrei no supermercado querendo um café. Depois do lanche fui pra parada de ônibus. Nuvens esfarrapadas e muito baixas iam do sul para o norte velozmente. Quem sabe estavam atrasadas pra um encontro sobre o oceano. O nascente apresenteou-se dourado.Uma camada uniforme de nuvens altas difundia a luz do Sol de tal forma que parecia uma coroa escovada de ouro tomando 1/3 do céu e lutando contra o cinza escuro do mau tempo. Ao poente,um arco-íris firme e imenso sustentava o céu.Bem ao sul,um outro arco,esbranquiçado dividia cores claras acima de cores escuras,bem abaixo.Era como uma fronteira entre o dia e a noite,uma batalha ao amanhecer.Ao fundo as montanhas confundiam-se com esse azul escuro e intenso,perdiam-se nebulosas por trás dessa cortina úmida e noturna. Apesar do cansaço, apreciei o céu imensamente. Dentro do ônibus deixei a janela aberta e recebi o vento frio com prazer. A cidade acordava tingida de ouro. Era como se a luz do Sol desentocasse do íntimo das coisas uma natureza insuspeita. Fortaleza lavada pela chuva despertava em lâminas de ouro.
Em casa lavei o rosto.O sono demorou um pouco a vir.Um pouco de televisão resolveu o problema e meti-me sob as cobertas. Sábado absolutamente comum,sem relevos. Apenas a memória do amanhecer recorda-me conteúdos misteriosos.

Dessa vez mais chuva pra variar

Agora escrevo do trabalho.Vim pra observar algumas maravilhas celestes e só vejo cântaros de água sobre a cidade de Fortaleza. Além do mais esse maldito teclado é duro como pedra e teclar soa como um espancamento. Chuva de meteoros? Qual o quê! Só um temporal pesado por todos os lado. Estou me sentindo como Noé. E não tenho um maldito pombo pra soltar sobre o mundo.Detesto pombos. Então passo o tempo até voltar pra casa escrevendo,enchendo esse papel virtual de tralhas mentais,rememorações acerbas e humores contraditórios. Não tenho problemas com noites em claro.Amo as noites em claro mais que os dias de cansaço. A noite e eu temos afinidades subterrâneas. Possuimos nossos segredos e somente aqueles que um dia se entregaram a sorte do desvario entendem o que significa cheirar a pele da madrugada. Enquanto isso o som rola suavemente com Philip Glass. Albúm Mishima. Olho lá pra fora.As nuvens refletem as cores laranjas dos postes. Paisagem titânica. Fachos de luz surgem a medida que a chuva desce. Ventos fracos resvalam nas arestas dos prédios perguntando sobre o peso das almas sonolentas. Não há peso nessa hora.Apenas devaneios irresponsáveis,ocultos pela máscara do sonho. Nenhum homem deve ver o rosto do que dorme.
Lá fora os elementos buscam uma pátria que lhes revele o nome das coisas imóveis. Desejam sua durabilidade a todo custo e precipitam-se em furiosa tormenta. Perfuram o crânio da noite roubando-lhe os pensamentos. Açoitam o asfalto com um ódio quase humano e no entanto almejam a carne da terra e seu tutano mais recôndito. Procuram uma mãe pra estraçalhar. Que poderia dizer esse frenesi da chuva senão lembranças do céu imenso e indiferente? E dessas nuvens volumosas e carregadas de ar senão as dores de um parto oceânico? Desabam fetos de água sobre o mundo.Nascituros uivando durante a queda como o mais belo dos anjos,caindo e caindo numa sede implacável por terra e veios escondidos. Coisas que a noite conta em parábolas. Ouçam os que tem ouvidos e vejam os que tem olhos. Glass inspira iniquidades literárias sem sentido.
Pois o tempo põe-se quieto. Clamou como um condenado e depois cansado,calou-se. Berrou e agora dorme satisfeito por assombrar os macacos aqui debaixo. Para constar nos autos,aguardo apenas o amanhecer. Impossível voltar com uma minima segurança para casa.Nenhuma esperança de ver o céu estrelado piscar o olho para mim. Respeito sua disposição em colocar-se as escondidas e liberar os titãs no meio dos vivos. Assim apreciamos devidamente a tranquila eternidade do espaço.
Sem sono vou aqui esperando. Calmamente ouvindo música e escrevendo o que me vier a cabeça. Falta de talento dá nisso.

sexta-feira, abril 21, 2006

Hoje no Globo repórter

Hoje no Globo repórter,pela 2765ª vez uma matéria sobre hipertensão. Dá até raiva rever as mesmas tolices sobre a uva,a alimentação,o tabagismo,etc. É sempre o lugar comum entronizado como verdade científica. São até científicas,mas a reportagem é tosca,superficial. O GR aposta no fácil.O tripé da chatice: Saúde,natureza e comportamento. Na saúde é obsedidade,diabetes,câncer,tabagismo e medicina "alternativa". Natureza é um desfile de imagens sem conteúdo,a não ser a voz em off poetizando flatos & obviedades. E o comportamento é de lascar - Adolescência, velhice feliz,casais fofinhos e sorridentes. Uma platitude só.
Pra variar a fórmula se espalhou a ponto de outras emissoras copiarem. Viva a tv a cabo,a internet e o controle remoto.

quinta-feira, abril 20, 2006

Entre as baforadas

Acendi meu cachimbo cheio de contentamento.Escapei por um triz da chuva que desaba nesse momento na cidade. Quando sai do trabalho passei rapidamente no supermercado e comprei meu ópio norte americano,o sangue negro do capitalismo. A Coca cola me faz feliz durante alguns minutos.Na geladeira do supermercado havia um estoque de garrafas de 3 litros. Quase me voltei para a Meca em agradecimento. Em breve o garrafão de 20 litros. Entretanto quem me diverte agora é o cachimbo cheio de Capitain Black. E a Internet. A chuva cai pesada e o som da água lá fora é tranquilizador. Não saio pra tomar banhos de chuva.Prefiro olhar de um lugar bem aquecido e confortável. Molhado só à revelia.E dessa vez eu venci os presságios.
Ontem foi uma especie de folga. Fui a casa de um amigo pra uma reunião. Minha amiga quase brasiliense apareceu e sentados civilizadamente em torno da mesa de jantar comemos e bebemos em homenagem ao momento e sua inexorável brevidade. Os presentes,quase todos eram dos tempos idos da faculdade. Estima-se que a idade média girava em torno dos 30 anos. Conhece-mo-nos naquele periodo onde é facil travar amizades.Ninguém exige muito de si nem dos outros. Por isso poucas sobrevivem com o passar do tempo.As que chegam no aniversário de uma década estão postulando a vida inteira. E foi assim nossa reunião: Fofocas e desabafos,petiscos e bebidinhas inocentes,fotos digitais,conselhos e risos,confissões um tanto cabeludas-que todos já sabiam e um pouco de saudade.Não exatamente da faculdade. Na época nem nos davamos conta do quanto gostavamos da presença uns dos outros. Só hoje,quando separados se não por 2000 quilômetros,por um cotidiano estafante nos damos conta de apreciarmos a companhia mútua. E como aproveitamos ontem! Ouvir as gargalhadas da minha amiga encheu-me de lembranças. Não somos mais os mesmos e no entanto ainda muito ligados a certos sinais de personalidade. Eu,como sempre sou o discordante. Há o apaziguador.O surreal. Cada um projetou na tela desse encontro algo que lhe identificava como outrora. A estrutura ainda continua-pensei comigo.Bom pra nós.
Logo depois veio a despedida.Depois de um tempo e várias despedidas, a gente parece acostumar-se. Não um adeus,mas um até logo.Retomaremos o fio dessa conversa truncada tão breve seja possivel. Não duvidamos mais dos sentimentos que povoam nosso relacionamento e portanto não há cobranças de fidelidade eterna.Quando isso se mostra é só por charme. Inevitáveis são os longos abraços. Na minha juventude aborrescente tinha uma certa vergonha de abraçar meus amigos.Hoje pouco me importa. Na aborrescência temos muito o que provar.Hoje são outras coisas que testam o aço de minha forja.
Por fim encontrei um texto do meu velho H.D.Thoreau. Ei-lo:
Walden; ou, a Vida nos Bosques
"Eu fui aos bosques porque queria viver deliberadamente, enfrentar somente os fatos essenciais da vida, e ver se eu não podia aprender o que ela tinha a me ensinar, e não, quando viesse a morrer, descobrir que não havia vivido. Não queria viver o que não fosse vida, viver é tão bom; nem queria praticar resignação, a menos que fosse realmente necessário. Eu queria viver profundamente e sorver toda a essência da vida, viver violenta e espartanamente de forma a derrotar tudo que não fosse vida, e reduzí-la aos seus mais simples termos, e, se isso se provasse pobre, porque então alcançar a sua miséria completa e genuína, e anunciar esta miséria ao mundo; ou se fosse sublime, conhecer de experiência, e ter condições de dar um relato fiel disto em minha próxima excursão."

quarta-feira, abril 19, 2006

Da arte de ser esquivo

Aqui em Fortaleza temos uma pós graduação na arte de ser esquivo. As pessoas são demasiado curiosas e invasivas ao ponto da grosseiria. Deve ser a cultura sertaneja-comunitária que não larga do pé mesmo de gerações acostumadas a cidade. Até porque Fortaleza goza ares de brejeirice onde as pessoas colocam suas cadeiras nas calçadas na hora do Jornal nacional,chamam por fulano aos berros e fazem perguntas absolutamente pessoais sem a menor lasca de vergonha. Daí a necessidade de esquivar-se bem. Tem gente que nem sente o tamanho da boca. Outro dia uma moça,atendente de uma loja de roupas,olhou pra mim - potencial cliente- e perguntou na lata: Você sempre foi magro assim? Como sou um doce de pessoa,um mal para diabéticos respondi que era gordo pra dentro. Alias,ser magro também tem desvantagens nesse mundo de perfeitos e torneados. Fui abordado por um sicrano que enfiou um cartão entre meus dedos e disse que também curava magreza.Olhei o cartão verde muco onde figurava uma propaganda de alimentos saudáveis (argh!). "Seja bom"-pensei- e limitei-me a retrucar:"Magro? Eu não sou magro!"E fiz uma cara de alucinado. Nesses casos a coisa funciona bem,quero dizer,uma resposta a altura. Pior é justamente quando o nível mental do coleguinha está muitos metros abaixo de qualquer coisa articulada que você possa dizer. Escolhe-se entre o silêncio pesado ou a pura verbalização num sonoro "vá te F... Como sou um gentleman escolho o Vá... como último recurso.Mas até um cavalheiro sabe quando deve usar e onde o chicote.
Existem aqueles metidinhos que falam que te viram num lugar xis. Se me viu,por que não me comprimentou? E se não me comprimentou, pra quê dizer que foi deseducado justo pra mim? Aconteceu uma vez esse comentário infeliz do "te vi ontem em lugar xis".Limito-me a responder que tenho habeas corpus e portanto é comum ser visto em lugares públicos. Detesto observações sobre a aparência das pessoas e não costumo multiplicar isso quando ouço. Peso,altura e hábitos noturno devem ser do escopo intimo de cada um e não tenho nada a ver com isso.
Mas meu objetivo era escrever sobre a arte de ser esquivo. Não dei os melhores exemplos,os mais notáveis. Não lembro muito bem deles. O Leão da montanha tem um conselho dos mais valorosos:Saída rápida pela direita. Esquivo-me portanto de continuar esse assunto.

terça-feira, abril 18, 2006

Uma velha música

Mexendo no computador. O meu ligou direitinho,ao contrário da imensa maioria dos pc's dos meus amigos. São computadores friorentos. Acabei ouvindo algumas músicas enquanto trabalhava a 30% de atenção. Mais do que isso imediatamente desligo a música. Estudos e trabalho só faço em silêncio,ou quase pois resmungo bastante.
Por umas daquelas coincidências que fazem o gosto de muita gente,enquanto desdobrava algumas imagens antigas que fiz da Lua as caixas de som começaram a tocar o velho sucesso do "Nenhum de nós".Falo do "Astronauta de mámore". Eu tinha uns 15 anos na época.Adorava a música que foi lançada no aniversário de 20 anos do pouso do homem na Lua. 1989 foi um ano agitado pra mim,além dos hormônios e congêneres. Filho único ganhei uma irmã.Terminava o 1ºgrau e já me despedia do velho bairro e dos colegas de infância. E tambem assistia "Anos incriveis".No entanto me achava mais esperto que o protagonista.Ainda me acho.
A música vai passando e vou relembrando das aulas de violino (tem um violino na música). Pra alegria dos meus vizinhos e dos seus cachorros eu me mudei.Hoje não toco mais violino e sinto uma certa falta disso.Um dia quem sabe... O certo que já não sou mais o mesmo mas estou no seu lugar (isso soa meio confuso). Só não voltei mais puro do céu.Nunca estive lá.
Se aos 30 anos tenho esse apego ao passado não necessariamente o creio como feliz.Foi quase normal. Se os deuses dessem-me a chance de viver novamente aqueles anos eu passaria a vez e pediria uma conta bancária de verdade. Eu aprendi muito com Peggy Sue. Preferiria viver melhor a época de faculdade. Cometeria erros diferentes. No balanço final tudo sairia do mesmo jeito.Somos fiéis aos erros e quase refratários aos acertos. E qual a vantagem de ter 30 anos? Primeiro que a configuração cerebral está devidamente consolidada. Tudo funciona direitinho,na média. Não tenho mais surpresas com meu corpo.Nos conhecemos bem agora e nunca saimos separados. Os gostos não são tão refinados assim - refinamento demora muito e independe de grana-mas sei do que gosto e detesto.E tergiverso bem menos agora. Sabedoria? Pouquinho.
Começou a cair uma chuva fina. O JN fala sobre os 100 anos do Big One em San Francisco e dos 60% de chance de um novo terremoto nos próximos 25 anos. Terei 55 caso o Irã não detone o mundo.

Uma notícia feliz num dia de chuva

Uma notícia feliz num dia de chuva foi a que recebi por volta das 10:30 da manhã. O telefone tocou interrompendo os necessários estudos e atendi uma voz familiar no outro lado da linha. Como sou péssimo pra reconhecer vozes (nomes então nem falo) fiquei alguns segundos na dúvida.Ela reclamou a minha falta de surpresa,mas era puro medo de dizer bobagem. Quando houve a identificação,alegria e alívio. Uma grata notícia num dia chuvoso: A proximidade de alguém que amamos.Parece sumamente piegas,mas cansei de ver gente reclamando que não tem ninguém pra conversar,sem amigos,amantes ou que valha. Sou piegas mas estou contente quando se trata dos meus amigos.Poucos,porém muitos. E ela está em Fortaleza,vinda diretamente da cidade de Brasilia,sede do poder e do moradia do presidente molusco. Pena que ficará pouco. Os que valem a pena em nossa vidinha meia tigela devem ser medidos a peso de ouro. Afinal,quantas pessoas por ai podem se dar ao luxo de serem suportadas amistosamente como sou pelos meus amigos? A eles o melhor de mim.Aos outros,as sobras.
E sobre isso outro dia discutia com outro amigo.Ele reclamava da minha sede por argumentação,pela sanha herética da discussão. Discutiamos algo sobre política.Jamais perderia uma amizade por isso. Hoje só presenteio meus amigos com o doce dos meus argumentos.Não muito que enjoa. Aprendi a respeitar as opiniões alheias tanto quanto respeito as minhas (se bem que rio bastante comigo mesmo). Por isso estudo:De volta aos bancos da faculdade. Quero incêndios.Preciso de palestras,de agon. Sempre serei gauge e contraditório.
O fato desse dia de chuva é que tenho mais alguém pra visitar e demonstrar que posso ser carinhoso,verdadeiramente carinhoso. São com essas pessoas que minhas obsessões ganham a liberdade própria da normalidade.Ninguém se espanta.Nem eu.
Seja bem vinda a minha vida,mesmo brevemente como um risco de luz cortando a noite. Pra quem aprecia as estrelas a escuridão nunca assusta.

segunda-feira, abril 17, 2006

Garotinho para santo.

Ele já provou que como governador e secretário de segurança pública não serve. Será Garotinho mais um rosto rechonchudo na tv? Ao que parece não. No jornal O Globo de Domingo lemos uma matéria acerca das aparições (literalmente isso) do pré candidato nos meios de comunicações - a exceção de terreiros de macumba pois Garotinho é evangélico. Lendo e lendo mais um pouco fiquei sabendo sobre o tal programa "Palavra de paz". O grande barato (sic) são os testemunhos de adoração ao garoto G. Gente que se diz curada de conjuntivite,pedra nos rins,problemas cardíacos e homossexualismo. Vê-se que garotinho tem um espectro amplo de milagres. Os evangélicos não apreciam imagens e muito menos santos. Exatamente onde encaixariam o Garotinho? Pois se ele intercede junto ao Boss tem algo de santidade cheirando ali. Espero que nenhum pastor o chute na tv (eu disse CHUTE,um que uma letra não faz...).
O único milagre que não consegue realizar é para de dizer asneiras.

sábado, abril 15, 2006

Playboy na Indonesia.

Parece estranho comentar isso,a Playboy foi publicada na Indonesia. Sim,e dai? Dai que só agora,em 2006 um país mulçumano publicou uma revista masculina. E mais,houve quebra-quebra no escritório da revista.Um grupinho de radicais vestidos para matar arrebentou o escritório da revista sob as vistas da polícia. O chefe da guarda-sei-lá-o-quê com a cara mais lavada do mundo ainda protestou afirmando que a revista foi avisada a fechar seu escritório mais cedo pois sofreria ataques. É como se a polícia daqui avisasse o cidadão que caso ele saia na rua depois das 22 horas não há como garantir a sua segurança (e o pior que é verdade). E o conteúdo da revista era assim...hum...interessante? Que nada.Não havia nudez! Uma Playboy sem nudez! Os homens devem se excitar com muito pouco então! Um tornozelo...nossa,absolutamente pecaminoso.Ombro nem pensar. Depois chamam isso de cultura. Pra completar,uma lei anti pornografia tramita no congresso (eles tem isso lá? pensei que fosse inspiração divina) e proibe beijos em público. Beijos em público.
Depois dessa damos literalmente graças a Deus por vivermos nesse lado do mundo.
Caçando algo na internet,encontrei um artigo (comentarios e negrito meus):
Por 39.000 rupias (cerca de 3,30 euros) é possível comprar a revista erótica, de periodicidade mensal, mas esta aparição muito controversa apresentou-se como um balde de água fria (banhos gelados são comumentes usados para desinflacionar excitações fora de hora) para os numerosos leitores do maior país muçulmano do mundo.
A revista não continha as esperadas fotos «picantes», condenadas antecipadamente pelos religiosos conservadores indonésios, e apresentava mulheres pouco despidas, no máximo em bikini, e sem poses lascivas (Qual é a graça disso?).
«É vergonhoso ter uma Playboy sem nudez», queixou-se um leitor à rádio 68H de Jacarta (Essa é uma opinião sensata).
«É um escândalo. Não há mulheres nuas nesta revista. Penso que fomos enganados» (Procon neles e cadeia pros mulás), lamentou outro ouvinte.
A capa da primeira edição indonésia da Playboy exibia temas sérios, como uma entrevista a Pramoedya Ananta Toer, o mais célebre intelectual do país, e um artigo sobre a reconciliação com Timor- Leste ( Na Indonesia aquela desculpa de se comprar a Playboy pelo conteúdo intelectual dos artigos funciona).
Esta linha editorial, explicada pela pressão de numerosos grupos islâmicos, não acalmou, no entanto, os radicais muçulmanos.
«Playboy é sinónimo de pornografia. O próprio nome evoca um homem que gosta de brincar com as mulheres ( E se tudo estiver correto o contrário é verdadeiro.Aliás,qual o problema de se brincar? Uma revista pode servir de tanta coisa,como matar baratas,abanar a cara,estofar caixas...Não é só pornografia.Tem alguma sim,mas só pra ser diferente.O importante são os artigos.E mais,o leitor não brinca com mulheres de verdade). Quem pode garantir que eles não publicarão nudez no futuro? (isso seria uma benção para os frustrados leitores)», declarou à AFP Muhammad Rizieq Shihab, líder da Frente dos Defensores do Islão (FPI).
Durante os últimos meses, a FPI e outras organizações muçulmanas conduziram uma campanha contra a Playboy, com o apoio tácito do presidente Susilo Bambang Yudhoyono.
Mesmo que o Islão praticado na Indonésia seja, na sua grande maioria, considerado tolerante, a imprensa indonésia - apenas recentemente emancipada - é ameaçada de censura e move-se dentro de certos limites.
Diário Digital / Lusa http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=222845

quinta-feira, abril 13, 2006

Foi ontem,mas ainda é tempo.

Foi ontem o aniversário de Fortaleza.Pois é,280 anos levando Sol a beira mar a virgem dos lábios de mel comemora seus anos com uma tropa de turistas vindos da Itália,Portugal e alhures num programinha suado,dentro de um inferninho qualquer. Nada contra. Fortaleza é maior "de idade",faz o que bem entende com seu corpinho bicentenário. Corpinho meio esburacado,cheios de sacos de lixo espalhados nas calçadas,umas cusparadas verdes escorrendo nos meio fios. A gente daqui adora uma cusparada densa,brilhante,catarrenta. Dá status cuspir longe essa porcaria.Se pegar no pé de alguém então é riso certo.Tão moleques os meninos... Almas interioranas acostumadas as largas paisagens sertanejas usam suas belas vozes pra gritar o nome do menino traquinas,pra chamar a fulana e desentupir o ouvido de qualquer um. Aqui se grita pra pedir silêncio. Se berra educadamente. Temos 2.347.000 pessoas buscando por uma cidade. Diabos é que a cidade teima em fugir deixando todos a ver navios. Claro que temos gente esperta que se aventura pela Europa dentro da bagagem de um narigudo branquelo. Principalmente mulheres sonhadoras,atentissímas as carteiras.Acabam virando putas no estrangeiro e voltam pra casa duplamente desonradas. Não é só um problema social. É de mentalidades também. Somente nos últimos 10 anos Fortaleza ganhou o nome de cidade de serviços. Aqui tinhamos todos os problemas de uma metropole e nenhuma de suas comodidades.Agora temos algumas. Cinemas,por exemplo. Há 10 anos passados só dispunhamos de 3. Dois fecharam-Um virou shopping center e outro depois de igreja,fechou definitivamente. Temos finalmente um sem número de salas de cinema. Ruim pra mim que detesto ir ao cinema.Quisera que fossem livrarias,cafés (temos pouquissimos),teatros (mas pra que peças?),museus...
Nas esquinas vemos bares e mais bares.Aqui se toma cachaça na veia. Quando tem jogo do Ceará e Fortaleza,as pessoas de bem não saem de casa.Guerra urbana no melhor estilo "salve-se quem puder". Sem contar a molecada solta,longe da escola. Dificilmente vejo grávidas pelas ruas,mas o número de meninos soltos é estupendo.Será gemulação? Como essa criançada vem ao mundo? Deve ser uma cegonha bêbada que aparece com essas carradas de crianças. Já falei dos sacos de lixo.Atenção especial ao assunto.Fui recentemente a Natal.Cidade limpa e bem preservada.Muito verde. Não gostei daquelas avenidas intermináveis,mas o lugar é limpo.Não vi papel,lixo nas ruas. Aqui,proh pudor- é uma infestação de sacos de lixo,em geral sacos plásticos de supermercados atulhando as calçadas. O pedestre tem que disputar espaço entre os sacos e os carros estacionados. Arrisca-se a ser atropelado ou a tropeçar num monte de porcarias. E ninguém acha isso ruim. Chegam os catadores,abrem os sacos e espalham a imundície. A praia de Iracema depois de um show parece a ruína de uma cidade. E cheira a urina.
Todos reclamam dos ônibus lotados.Ninguém age bem ao subir num deles. Deus nos acuda subir num grande circular as 18 horas. Ou num dia de festa. Parece uma floresta em polvorosa.
Eu reclamo muito de Fortaleza. Conheço o Rio de Janeiro,São Paulo,Belo Horizonte,Brasilia,Natal. Falo com propriedade das coisas daqui. Aborreço-me mais com o descaso,pois Fortaleza tem os meios de tornar-se realmente bela e não apenas uma propaganda besta da prefeitura. Cada cidade vive seus problemas e há mais deles com o passar dos anos. Meu receio é ver essa cidade onde passei grande parte de minha vida virar um esgoto onde ratos e gente não tem qualquer diferença.
É isso aí.

quarta-feira, abril 12, 2006

A internet me põe louco

Acabei de baixar alguns livros em espanhol de autores argentinos.Cortázar,Borges,Sábato... Um banquete que já me deixa salivando de ansiedade. Desde que a internet entrou na minha vida (que coisa mais religiosa) meu ritmo de compras livrescas diminuiu bastante. Motivos econômicos:Ou comprava livros ou pagava o computador. Escolhi a máquina. Nunca fui avesso a tecnologia ( a tecnologia é que as vezes é avessa comigo) e vi a possibilidade de buscar textos na internet e compensar minha hiposuficiência econômica (vulgo:Miséria). Agora estou acostumado a ler pelo computador confortavelmente acavalado (que palavra) na poltrona e tenho uma pilha de coisas pra ler,uma lista que vai até 2010.
Como dizia o velho Hipócrates de Cós: A arte é longa e a vida é breve.

terça-feira, abril 11, 2006

Névoa

Andei olhando pela janela e há uma densa neblina sobre as coisas. As luzes dos postes espalham-se amarelentas pela névoa e posso quase tocar essa luminosidade. Ilusões geradas pelo ar. Comecei a pensar em Hamlet. Nada metafísico,apenas Hamlet. Minha irmã deseja ler a edição que tenho aqui. Afinal,todas as pessoas que não dormiram nos últimos 100 anos conhecem o "ser ou não ser". Pobre Hamlet.Ficou louco após mais de 5000 atores terem dito essa frase. Enlouqueceu também por não decidir matar o padrasto. Seria justiça divina ou vingança diabólica? Seu espírito soçobrou diante do dilema. Enquanto isso a velha toupeira sussurava:Jurai! Jurai! A alma do velho rei pedindo ao filho a vingança correta contradiz a opinião do principe sobre a incapacidade humana em avaliar os castigos do além túmulo. Não terá sido numa noite como a de hoje,nevoenta e silenciosa que a toupeira subiu do purgatório e escavou a sanidade do jovem dinamarquês? Espero fantasmas.

segunda-feira, abril 10, 2006

Spleen



Não esqueci que o dia 9 de Abril é aniversário de um amigo meu que está na Alemanha e tampouco de Baudelaire.Coincidência que nunca esqueço. Abri as Flores do mal no dia 08 e devidamente inspirado saí a noite.Comemorei na gandaia. Na página de entrada do livro tenho a data que o comprei:30 de Abril de 1996. 10 anos depois releio alguns dos meus versos favoritos e os declamo num francês arrastado. Quando li as Flores do mal pela primeira vez tinha apenas 20 anos e a experiência foi arrebatadora. Infelizmente tornei-me um mau poeta.Garotos de 20 anos tem disso.A alma está abarrotada de lirismo e tornamo-nos pequenos versejadores.Criei odes, pastorais, poemas eróticos,existencialistas,parnasianos.Ainda guardo os cadernos imensos cheios de rabiscos,tentativas,ritornelos. Só aos 27 resolvi parar.Prometi a mim mesmo nunca mais escrever versos. Prefiro um prosador razoável a um poeta mediocre. Ou seja,alimento minha vaidade na prosa. Poesia é uma arte dificil e sinceramente ler é mais divertido que escrever.Já não invejo os poetas.Eles são perfeitamente capazes de dizer tudo que eu sinto.Ampliaram meu vocabulário sentimental ao ponto da exaustão. Comecei com Baudelaire e Rimbaud. Feliz de mim que iniciei com esses dois ao invés do rip hop ou do funk.Estranhamente fui um garoto de subúrbio que lia esse tipo de coisa enquanto meus colegas liam gibi.Bom,eu lia gibi também,mas convenhamos,passear pela poesia francesa é no minimo inusitado. Não me fez melhor que os outros.Foi bom apenas para mim. Eu já sofria com o spleen e nem sabia.Vomitava tédio entre meus colegas e só hoje posso atestar o fato inequívoco de que eu era um chato pernóstico. Felizmente isso passou.Não preciso deles (colegas) pra viver.
Naquela época eu procurava as tais correspondências descritas por Baudelaire.Havia significado em tudo.A natureza era o "templo onde vivos pilares /Deixam filtrar não raro insólitos enredos". Sem nenhum enredo escrito na minha vida,roubava do poeta as definições secretas da realidade almejando uma totalidade. Já disse que aos 20 anos todos somos poetas.Somos também profetas. E como tais versejamos mediocremente e profetizamos ainda pior. Alguns continuam na senda,mas quantos realmente serão lembrados? Cortei minha cabeleira,não em prol de Dalila,mas do meu amor próprio.Viva a poesia alheia.

sábado, abril 08, 2006

Ô Sábado besta.

Não terminei minha semana à inglesa. Folguei no Sábado e terei o Domingo para enfrentar bravamente. Não me desagrada o dia de Saturno. Arrastado é o Domingo com usas Górgonas:Faustão, Gugu e Raul Gil. Fantasia estarrecedora:Um Domingo eterno. Arrepia-me a pele. Prefiro o Sábado. Até porque não estou sujeito a débâcle moral que assanha a alma de puristas domingueiros.Não coloco minha melhor roupa,não vou a igreja bater no peito culpas reais ou imaginárias. Sábado é dia de dormir a tarde toda,escrever um texto despretencioso,rir com os amigos com um copo de cerveja (prefiro o cachorro engarrafado-Uísque),bestar pela praia depois do pôr do Sol,abrir a revista semanal e morrer de preguiça. A noite é dos solteiros e dos gatos pardos.O que dá na mesma quando tratamos de comportamento. Sapatos lustrados,camisa passada,dentes e cabelos escovados,quem sabe aquele perfume de R$ 100,00 pra dar esperança.Depois uma massa de reboco na cara,lustra móveis no nariz e está aberta a temporada de caça. Tiros pra todos os lados. Tanta elegância escorregando pelas pernas... Ainda prefiro o Sábado,afinal o dia não tem culpa dos costumes. Sou quietinho.Olhos atentos valem mil gestos. "Carcaça,por onde me levas?- Tremerias se soubesses..." Sabendo-se administrar as irrelevâncias tudo é possível para os aventureiros -seria esse um sensato conselho para os novatos. Sábado é feito mesmo da juvenília:Corações ao alto buscando paixões nas ruas movimentadas espiando pelos vidros das janelas,sorrindo gratuitamente para todos os lados. Passei por isso e não sai incólume.Navegar é preciso nas águas turbulentas. Apaziguada a carne sobra a mente desperta. Com uma certa idade corar de vergonha não é sinal de virtude. Na que estou o vermelho é só do Sol . Sejamos mais diretos em nossos enlaces pessoais. Nada de tergiversar pois a língua pode sair queimada pelo desejo.
Que seja portanto o salmo de Sábado para reflexão dos fiéis:
(...) Tout droit dans son armure, un grand homme de pierre
Se tenait à la barre et coupait le flot noir;
Mais le calme héros, courbé sur sa rapière,
Regardait le sillage et ne daignait rien voir.

quinta-feira, abril 06, 2006

Round midnight

Dia cheio esse hoje. Apressado pela cidade,mercurial entre multidões de indiferentes levei alguém que amo ao médico pra tratar sua tristeza. Disso entendo e por ser de família tal propensão nem espantou-me descobrir em nossa convivência os sinais de nossa estirpe. Senti-me nas minhas próprias consultas,marinheiro de muitos portos e humores.O médico postado atrás de livros grossos nem impressionou-me.Também tenho livros de calibre aqui.Passe-me a receita e posologia,ok?
Entretanto com alguém tão amado e próximo a coisa é diferente.Gostaria de aninha-la e proteje-la. Preparar-lhe a cama e contar coisas doces ate que o sono vencesse os devaneios da insônia. Acostumado a sua presença durante minha infância pensava na sua dureza e experiência como normais e sem custos.Hoje,idosa reclama cuidados e detesta qualquer piedade. Que fazer diante do fato de se ficar triste? Compreendi que as vezes é necessário ajuda externa. Dor criativa é boa.Dor inútil choca minha sensibilidade. Uma vez estabelecido o diagnostico e o caminho senti alívio.Ela também.Saimos silenciosos do consultório com o coração apaziguado pelo conhecimento.Vá lá que não seja assim um conhecimento,com C maiusculo.Mas sofrer demais não vale a pena.
Depois fui ao trabalho e ao compromisso que havia estabelecido no inicio da noite.Qual o que! Nada,nada,absolutamente nada. Esperei e o tempo passou como passa sempre. Chateei-me por algo possivel.É que não me acostumo a esse comportamento de não avisar que algo deu errado. Sou daqueles preocupados.Solto a pulga da tragédia por trás da orelha e espero um desastre,sequestro relâmpago,acidente de carro,tornozelo machucado,usw. Levo "bolo" e fico preocupado.Péssimo para meu estômago e seu ardil.Lá vou eu desarmar uma bomba de prótons,tomar um hidróxido de aluminio e privar-me da Coca-Cola.
Já em casa o de costume:Banho,jantar,um pouco de televisão e computador. Coloco no som o velho Miles Davis e seu quinteto.Round midnight combina com capitain black. Coloco 3 boas somas no fornilho,aperto-as carinhosamente e acendo. Sim,Miles Davis e cachimbo combinam numa noite onde minhas costas reclamam a tensão do dia. Uma massagem cairia bem,mas...
Deixo o CD rolar as músicas. Walkin' é leve,espumante. Bato o teclado agilmente e paro pra ler o conteúdo.Solto fumaça e até balanço o pé esquerdo. O piano soa escalas improvisadas.Lembra meu dia com a corrida rumo ao futuro. Há um ritmo aqui também. Escrever,não deixar o cachimbo apagar,dar baforadas demoradas e ler. Que faria sem Miles aqui escavando as notas? A única coisa que desaprovo no jazz é a maldita mania de aplaudir.Detesto aplausos.Quebram o encanto que a ausência do som produz em mim.Sístole e diástole musical,o mundo e o vazio. As bestas aplaudem e rui por completo a obra.Essa mania desagradável chegou a música clássica e depois de subir aos píncaros sou obrigado a despertar entre pessoas desconhecidas com a arcada dentária a mostra. Aplaudem pra dizer ao artista o quanto ele é bacana,nossa você é massa,show,nota 10 e coisas assim.Ou quem sabe essa gente lá no fundo tenha medo de continuar cativa do encanto,de sair da sala de concertos impregnada por uma iluminação inumana,auroral.Que vida suportaria continuar ao ser iluminada com tamanha luz? Quem seguiria seu cotidiano tributável após ouvir certas passagens musicais? Platão já alertava para certos tons orientais lassivos. Música simples para não entorpecer a razão. Estava certo o discípulo de Sócrates. E aqui,no deserto intelectual as pessoas vão as salas de concerto exibir o fruto de seu trabalho na ostentação agressiva e deselegante. Um escravo pode ter a alma de um geômetra refinado.Alguns refinados tem a alma de escravos. Apupos,gritarias,assobios...uma gama de exalações d'alma,profundíssimas,regurgitadas do lodo. Essa gente me dá asco!
Obviamente que aplusos são apenas o convite pra meu humor estomagado. Há tanto mais que me tira do sério. E há dias onde nem sinto essa onda de enjôo.Passa até desapercebida a falta de senso generalizada. No entanto,quando não...tragam meus sais e um chicote na bandeja.

quarta-feira, abril 05, 2006

E no mais...


E no mais tragam-me o pnemotórax,a borracha,o quanto mais esteja por perto,tragam-me Bandeira que não suporto enxovalho que não seja nódoa de lama no terno de brim,pois tenho tudo quanto quero,irredutível,translúcido e sinuoso.Que seja rio,sertão e constelado.Tragam-me a vitrola e ponham aí um disco de Piazzolla que esta na hora de dançar um tango argentino.
E no mais me estendo pela noite em saltos orbitais dos mais intensos entre luzeiros perdidos,quiça mundos inteiros trafegando na escuridão perpetua.Não tragam-me luzes.Cansei-me,Hamlet.
É tempo de sonhar.

Será arte?

Folheando "A morte de Virgilio",de H.Broch:
"Ó mão que sente,tateia,recebe,abrange,ó dedos e pontas de dedos,ásperos e tenros e macios,ó pele viva,superfície mais extrema das trevas da alma,descerradas pelas mãos erguidas! Sempre notara ele aquela pulsação esquisita,quase vulcânica nas mãos,sempre o acompanhara o pressentimento de uma estranha vida própria dessas mãos,pressentimento ao qual uma vez por todas ficava vedado atravessar o limiar do conhecimento,como se neste se ocultassem indistintos perigos (...)"
"(...) e o poeta sentia isso,sentia-o em todos os tempos - ah,essa nostalgia de quem sempre é hóspede,de quem nunca pode ser outra coisa que não hóspede!"
Quantas vezes li esse trecho? Quantas vezes repassei cada frase,mergulhado em pensamentos no limite das palavras embalado na poética do texto,imaginando o velho aedo carregado numa liteira,vendo Roma pela última vez enquanto a febre consumia seu corpo. O que resta do homem senão o pensamento? Se seu corpo é uma farsa,pode ainda brilhar em sua mente? Ou,falso paradoxo,apesar de farsantes,sem querer alcançamos algo de sublime e eterno,uma frase,uma melodia,um só olhar que vara a escuridão do futuro e ilumina os não nascidos.
Criaturas ansiosas por compreensão damos tudo de nós por um só momento de mutualidade.Somente quando abandonados a própria sorte de nossas obsessões,quando sentimos a mais lastimosa dor do individuo podemos nos equilibrar no fio e buscar a obra em negro.
Porque escrevi isso tudo acima?Devaneio de uma noite arrastada e chuvosa.

segunda-feira, abril 03, 2006

De volta ao lar

Estranha sensação ao voltar para a universidade.Nada de fato mudou.Mudei.Senti saudade ao percorrer os caminhos extensamente percorridos e rever cada pedra e banco e prédio.Que dizer disso senão que sinto profundamente a falta daqueles pontos onde mantinha minhas certezas muito bem polidas,a língua afiando-se na lima dos debates.Desejo retornar em um ponto mais alto,desde já reconhecendo minha dívida com esse passado que ainda hoje anima alguns dos meus pensamentos.Voltar ao lar é entender o que antes parecia inescrutável porém familiar.É mergulhar nos prazeres antigos com uma nova pespectiva das coisas e aproveita-las como nunca.Rever os pátios ladrilhados tornou-me jovem sem obstante trazer-me a inocência.E se esta última jaz perdida no meio fio,que fique por lá que não faz-me a minima falta.
E depois outro prazer de muito tempo na cultura alemã:Música. Ouvi o que há tempos meus ouvidos não recebiam.Havia um grupo de música eletrônica,não do bate estaca,mas da vertente saida da escola de Viena (não a de equitação).Cismei entre as estrelas enquanto ouvia o murmurio distante de praias sonoras,deitei-me no colo das máquinas soberbas e voei naquelas paragens coloridas do monolito de 2001:Uma odisseia no espaço.Astronauta de mim perdi-me nas sensações como um epicurista.Saudade e renovação reuniram-se despertando pertencimentos,acolhidas.Saí tarde da noite,contente com a experiência.