segunda-feira, abril 10, 2006

Spleen



Não esqueci que o dia 9 de Abril é aniversário de um amigo meu que está na Alemanha e tampouco de Baudelaire.Coincidência que nunca esqueço. Abri as Flores do mal no dia 08 e devidamente inspirado saí a noite.Comemorei na gandaia. Na página de entrada do livro tenho a data que o comprei:30 de Abril de 1996. 10 anos depois releio alguns dos meus versos favoritos e os declamo num francês arrastado. Quando li as Flores do mal pela primeira vez tinha apenas 20 anos e a experiência foi arrebatadora. Infelizmente tornei-me um mau poeta.Garotos de 20 anos tem disso.A alma está abarrotada de lirismo e tornamo-nos pequenos versejadores.Criei odes, pastorais, poemas eróticos,existencialistas,parnasianos.Ainda guardo os cadernos imensos cheios de rabiscos,tentativas,ritornelos. Só aos 27 resolvi parar.Prometi a mim mesmo nunca mais escrever versos. Prefiro um prosador razoável a um poeta mediocre. Ou seja,alimento minha vaidade na prosa. Poesia é uma arte dificil e sinceramente ler é mais divertido que escrever.Já não invejo os poetas.Eles são perfeitamente capazes de dizer tudo que eu sinto.Ampliaram meu vocabulário sentimental ao ponto da exaustão. Comecei com Baudelaire e Rimbaud. Feliz de mim que iniciei com esses dois ao invés do rip hop ou do funk.Estranhamente fui um garoto de subúrbio que lia esse tipo de coisa enquanto meus colegas liam gibi.Bom,eu lia gibi também,mas convenhamos,passear pela poesia francesa é no minimo inusitado. Não me fez melhor que os outros.Foi bom apenas para mim. Eu já sofria com o spleen e nem sabia.Vomitava tédio entre meus colegas e só hoje posso atestar o fato inequívoco de que eu era um chato pernóstico. Felizmente isso passou.Não preciso deles (colegas) pra viver.
Naquela época eu procurava as tais correspondências descritas por Baudelaire.Havia significado em tudo.A natureza era o "templo onde vivos pilares /Deixam filtrar não raro insólitos enredos". Sem nenhum enredo escrito na minha vida,roubava do poeta as definições secretas da realidade almejando uma totalidade. Já disse que aos 20 anos todos somos poetas.Somos também profetas. E como tais versejamos mediocremente e profetizamos ainda pior. Alguns continuam na senda,mas quantos realmente serão lembrados? Cortei minha cabeleira,não em prol de Dalila,mas do meu amor próprio.Viva a poesia alheia.