domingo, agosto 27, 2006

Pintura (ou impressões estranhas).

As imagens estão coladas sobre o fundo.Um vidro as separa e as protege contra o vento.O mundo é uma colagem de coisas e pessoas.E o que há detrás de tudo isso? De que é feita a tela que recebe as camadas? Se resolver tirar a proteção e riscar com a unha o conjunto? Quantas pessoas morrerão e prédios desaparecerão? Há um desejo de destruição que coça as mãos diante do quadro.Coral de bárbaros urrando pela tentativa do incêndio.E a voz no rádio pede que faça e pare o mundo.Ela insiste em todas as estações - Faça e veja! Com uma espátula!
Então delicadamente retira-se o vidro,com um amor assasssino e coloca-o sobre a mesa.Um vidro separando os lados do universo.Uma tela surgida por acidente e sufocada pela vontade - eles não existem de fato,são apenas colagens sobrepostas sobre o fundo pintado.As mãos vão se aproximando dos personagens.Sua sombra escurece uma cidade.Um prédio altissimo lá na paisagem.Com a polpa do dedo indicador mexe no espigão.Apaga-o com facilidade.Lá em baixo as figuras de papel olham em unissono.Não há vozes.Vai descendo o polegar pela estrutura misturando as cores e criando uma esteira de desastre incomum.Nas janelas pequenos rostos observam o ato.
Então um último pensamento surge:Apagar a tela e depois...acender a lareira.