quarta-feira, agosto 23, 2006

Um dia entre livros- parte 1

Estou prestes a sair de casa e passear na feira do livro.Passear e quem sabe ceder as pequenas tentações de comprar um livro ou dois.Irresistivel como uma garrafa de cachaça para alcoólatras. É tão mais divertido ler um livro que conversar com a maioria das pessoas... E no final das contas o livro sempre está ali pronto para a decifração. Na jornada cansativa dos dias põe-se a disposição dos olhos e das mãos com um fetiche,chega a ser sensual. Além do prazer das frases,da estrutura,as cenas desenrrolando-se na mente,um cinema sem gente atrapalhando.
Ler é solitário. Pode ser divertido ler com outras pessoas,numa roda de poesia por exemplo,entretanto a grande leitura é feita as escondidas,quase secreta e clandestina.Desligado do mundo externo,o leitor vaga entre as páginas qual andarilho buscando os sinais da estrada. A leitura é um gesto de abandono e nunca está verdadeiramente associada ao coletivo.Nas massas só reina o caos dos assobios,de um monstro de mil olhos querendo comida.
É justamente o lado ruim de uma feira de livro: Muita gente. Aproveito pra passear e ver os rostos de quem realmente gosta de ler e quem apenas finge. Fingidos folheam livros com um arzinho de enfado,ou então demonstram interesse exagerado olhando pros lados a cata de olhares curiosos. Já quem gosta se perde num mar de ansiedades.Retraídos,costumam esconder-se ao máximo com os objetos de sua paixão.E abandona-los custa-lhes um certo sofrimento,um adeus lento e elaborado com mil desculpas e promessas de um encontro futuro.
Ler é amar o que há de melhor na humanidade.